A SUSTENTABILIDADE COMEÇA NA ORIGEM
A SUSTENTABILIDADE COMEÇA NA ORIGEM
A sustentabilidade alimentar e o impacto ambiental dos produtos que consumimos são temas que têm ganho proeminência no discurso global sobre a saúde do planeta. A preocupação crescente com a pegada ecológica dos sistemas alimentares conduziu a uma reflexão mais aprofundada sobre como e de onde provem os nossos alimentos. Neste enquadramento, a origem dos produtos emerge como um fator crítico, influenciando significativamente todo o ciclo de vida alimentar, desde a produção até ao consumo. Este processo interconectado destaca a necessidade de abordar as práticas sustentáveis em todas as etapas, particularmente em Portugal, onde a riqueza gastronómica e a diversidade agrícola fornecem um contexto único para explorar estas dinâmicas.
No centro desta discussão estão os restaurantes e as escolhas culinárias feitas em casa, ambos refletindo e influenciando as tendências de sustentabilidade alimentar. Os restaurantes, seja na vertente de cozinha tradicional ou moderna, são vitais na promoção de produtos locais e práticas sustentáveis, moldando as preferências dos consumidores e estimulando a procura por alimentos produzidos de forma responsável. A escolha de ingredientes locais, sazonais e de baixo impacto ambiental por estes estabelecimentos não só apoia a economia local, mas também contribui para uma menor pegada de carbono associada ao transporte de alimentos.
Da mesma forma, o que cozinhamos em casa reflete as nossas atitudes e valores relacionados com a sustentabilidade. As decisões de compra nos supermercados ou mercados locais, a preferência por produtos orgânicos ou de origem conhecida, e o esforço para reduzir o desperdício alimentar são aspectos que desempenham um papel crucial para impulsionar uma indústria alimentar mais sustentável.
Se pensarmos na nossa gastronomia e a história associada à mesma, rapidamente percebemos que os pratos são o resultado do saber fazer versus os produtos disponíveis num determinado território, numa determinada época do ano. É por esta razão que temos uma imensa diversidade de pratos, quer por regiões, quer por estação do ano.
Assim, ao explorar o impacto da origem dos produtos alimentares, abordaremos as várias etapas deste ciclo vital, destacando a situação em Portugal e estabelecendo paralelos com tendências globais. A intenção é refletir sobre como a proveniência dos alimentos influencia não só o meio ambiente, mas também a economia e o tecido social das comunidades, reforçando a ideia de que a sustentabilidade começa verdadeiramente na origem.
Produção Agrícola
Na base da sustentabilidade alimentar está a produção agrícola, onde o método de cultivo determina significativamente a pegada ambiental do produto. A agricultura biológica e regenerativa, por exemplo, favorece a saúde do solo, a biodiversidade e reduz a necessidade de químicos sintéticos. Em Portugal, já existem excelentes exemplos, mas gostava de destacar o trabalho que faz na região do Alentejo o Francisco Alves na Herdade de São Luis, onde estivemos com o programa Vai Dar Uma Curva e pode assistir a toda a entrevista no nosso canal no YouTube) destaca-se pela sua vasta área dedicada à agricultura regenerativa, mostrando um compromisso com práticas agrícolas sustentáveis
os pratos são o resultado do saber fazer versus os produtos disponíveis num determinado território, numa determinada época do ano.
Transporte e Distribuição
A distância entre o local de produção e o ponto de consumo é outro fator crucial. Os produtos locais tendem a ter uma pegada de carbono menor devido às distâncias de transporte reduzidas. Portugal, com iniciativas como o projeto "Prove", incentiva a distribuição local de produtos agrícolas, diminuindo o transporte de longa distância e promovendo a economia local, um movimento paralelo ao que ocorre em muitas partes do mundo com a valorização de mercados locais e sistemas alimentares regionais.
Consumo e Conscientização
A escolha do consumidor tem um impacto significativo na sustentabilidade alimentar. Em Portugal, há uma crescente valorização de produtos com certificação de origem protegida (DOP) e indicação geográfica protegida (IGP), que garantem não só a qualidade, mas também práticas sustentáveis de produção. Este movimento reflete uma consciência global sobre a importância de consumir produtos mais sustentáveis e eticamente responsáveis.
Desperdício Alimentar
O desperdício alimentar é um problema global com implicações significativas na sustentabilidade. Em Portugal, iniciativas como a Zero Desperdício , procuram combater este problema, promovendo a utilização integral dos alimentos e contribuindo para uma cadeia alimentar mais sustentável. Este esforço é refletido em campanhas internacionais que visam reduzir o desperdício em todas as fases da cadeia alimentar.
Inovação e Tecnologia
A adoção de tecnologias inovadoras na produção, processamento e distribuição de alimentos pode aumentar a sustentabilidade do sistema alimentar. Como é o caso do conceito Smart Farming ou agricultura inteligente, representa uma evolução significativa na forma como a agricultura e a pecuária são conduzidas, alinhando-se com os princípios da Quarta Revolução Industrial.
Esta abordagem integra tecnologias avançadas, como a Internet das Coisas (IoT), análise de dados, robótica e inteligência artificial, para transformar o setor agrícola, tornando-o mais eficiente, produtivo e sustentável. O smart farming visa otimizar todos os aspectos do processo produtivo, desde o monitorização precisa das condições do solo e das culturas até à gestão automatizada do gado, assegurando uma utilização mais racional dos recursos naturais como água e energia, e reduzindo a necessidade de intervenções químicas através de uma gestão agrícola mais precisa e personalizada.
Produção Sustentável
A produção sustentável de alimentos foca na minimização do uso de recursos naturais, na redução de emissões de gases com efeito de estufa, na preservação da biodiversidade e no apoio às economias locais. Temos já excelentes exemplos como a agricultura biológica, que evita o uso de pesticidas químicos e fertilizantes sintéticos, demonstram como a produção sustentável pode ser implementada com sucesso, preservando a qualidade do solo e da água.
Processamento e Embalagem
O processamento e embalagem dos alimentos devem ser considerados na cadeia de sustentabilidade. Embalagens ecológicas, redução de plásticos de uso único e fábricas que utilizam energias renováveis são essenciais para diminuir o impacto ambiental.
Distribuição e Consumo
A distribuição de alimentos e o consumo local também desempenham um papel crucial na sustentabilidade. Promover circuitos curtos de comercialização, como os mercados locais e mercearias de proximidade, reduz o transporte e consequentemente as emissões de carbono. Além disso, fomenta a economia local e garante produtos mais frescos e saudáveis aos consumidores.
Procurei apresentar aqui um caminho em direção a um sistema alimentar sustentável, que reflete uma visão abrangente e que nos leva desde do prado até à mesa, integrando a inovação tecnológica com a tradição e a paixão pela gastronomia. Esta abordagem holística não só enriquece a herança cultural e gastronómica do país, mas também sinaliza um caminho promissor para um futuro em que a sustentabilidade alimentar seja a norma, beneficiando o ambiente, a economia e as comunidades locais. A transformação em curso, marcada pelo respeito à origem dos alimentos e pelo compromisso com práticas sustentáveis, destaca a importância de cada escolha que fazemos, demonstrando que, ao valorizarmos o que é nosso e cuidarmos do nosso planeta, podemos comer melhor e promover a economia local, garantindo mais pessoas nos territórios rurais.